Brincadeira de criança

Vamos brincar de “muda”? Pois é, finjamos ser uma plantinha pequena, retirada de uma árvore muito maior, que estava com vontade de dividir.
Vamos brincar de mudar? Mudar uma pessoa, mudar um jeito, uma atitude, uma maneira, uma brincadeira. Vamos mudar uma risada, um sorriso ou uma lágrima.
Vamos, então, brincar de magoar? De dizer as coisas sem medos das inúmeras pessoas que não entenderão nosso ponto de vista e ficarão contra nós.
Vamos brincar de “verdade” e nesta verdade dizer a pior mentira que poderia ser ouvida.
Vamos brincar de não controlar nossas atitudes e não pensar no próximo: vamos filosofar.
Vamos ignorar, falar mal, falar mal sem intenção, mas sem mudar o fato de falar mal.
Vamos dizer na lata o que pensamos, vamos ser hipócritas, cínicos e debochados.
Vamos machucar? Fazer doer, porque nada vai mudar o fato da verdade estar estampada na face.
Vamos ser ingênuos e depois dizer que não temos nada haver com isso.
Vamos acreditar nas palavras e não nas atitudes.
Vamos esquecer a presença e vamos nos preocupar em dar conselhos, em falar e depois dizer “eu te avisei!”.

Vamos?

[…] Não. Se você quiser vá sozinho. Ficarei aqui, sendo assim, deste jeito. Quando olhar para trás e ver que nada nunca vai mudar se não quiser, não volte e diga que aceita as regras, que é melhor ser assim do que não ter nada. Não volte, eu aviso! A partir de agora faço o caminho oposto a tudo e a todos. Sem precisar de palpites, cinismo e preocupações desnecessárias. Até porque a vida é minha e pelo que eu ainda sei de vida… É a única coisa que me resta. Então vamos brincar de vida e ficar assim nesta monotonia animada. Vamos fazer uma festa no quarto que vai até as cinco da manhã com meus ursinhos. Vamos comer manga com leite, sorvete gelado no inverno, andar descalço no chão gelado, não comer legumes nas refeições. Vamos esquecer o dever de casa, ficar bêbados de coca cola, dormir no calor de coberta. Ah, me deixa, a vida é minha, a única que tenho, conheço e sou, desde que nasci, eu faço dela o que eu quiser.

Mariana Cassiano